por Carol Portiolli | Escritora da News do Minas de Propósito
“Como é fácil a gente voltar pro padrão de sempre de se sentir insuficiente, de achar que não está produzindo o suficiente…”
Você também se sente assim, Mina? Aposto que sim, pois eu também lido com isso diariamente. Aliás, a passagem que inicia este texto foi dita recentemente nos Stories do Instagram de uma empreendedora e confeiteira do Rio Grande do Sul.
No início deste ano, houve uma mudança significativa na empresa dela. E a fala que compartilhei aconteceu dias após um pronunciamento oficial lindo e sensível sobre este novo momento.
Entre tantas coisas abordadas no comunicado, o que ficou mais evidente pra mim foi a coragem de se expor publicamente com total vulnerabilidade para falar sobre temas como burnout, problemas de saúde e como colocamos a vida profissional acima do nosso bem-estar físico e mental.
E decidi trazer este exemplo por dois motivos:
Essa é a realidade de grande parte das mulheres brasileiras, que vivem sobrecarregadas de tarefas e de carga mental.
É muito fácil a gente entrar em um ciclo eterno e diário de “tenho que”.
Tenho que ser uma profissional incrível. Tenho que ter sucesso no empreendedorismo. Tenho que ter filhos até tal idade. Tenho que estar em um relacionamento amoroso. Tenho que casar. Tenho que ser fitness. Tenho que cuidar da casa. Tenho que produzir conteúdo. Tenho que ir ao mercado. Tenho que ser uma boa líder. Tenho que ter um hobbie. Tenho que monetizar o meu hobbie. Tenho que ler um livro por mês…
Convenhamos: é exaustivo e humanamente impossível equilibrar todos esses pratos e ainda manter a saúde mental em dia, não é mesmo?
O problema é que é muito fácil a gente continuar repetindo padrões nocivos e que são normalizados na sociedade (além de romantizados), negligenciando nossa saúde, tendo a sensação de ser sempre insuficientes e achando que precisamos ser a mulher maravilha 24 horas por dia.
Aliás, dados importantes: são as mulheres as que mais sofrem com a síndrome de burnout no Brasil. O estudo FIA Employee Experience, por exemplo, mostrou que as mulheres carregam 12% a mais de cargas mentais do que os homens e têm 73% a mais de chances de apresentar sintomas de esgotamento físico e mental.
A parte mais delicada é que, mesmo assim, a gente continua se sentindo insuficiente, com cansaço eterno e se desdobrando em mil para fazer as coisas acontecerem.
Pois é. É difícil assumir que não dá para segurar todos os pratos e que é preciso colocar o pé no freio.
Mas se a gente não para por conta própria e com consciência, o nosso corpo começa a dar sinais de alerta – até entrar em um processo desgastante de exaustão.
Afinal, cansaço mental não é somente sono excessivo e desânimo.
Ele está nos pequenos detalhes do dia a dia, como esquecer o horário de um compromisso importante, levantar da cama pensando nas centenas de tarefas que precisam ser concluídas, encarar a vida como um checklist eterno, ter dificuldade para se concentrar, pedir um Uber e colocar o endereço errado (isso, por exemplo, aconteceu comigo nos últimos tempos), acordar com um torcicolo que não existia na noite anterior…
O que a gente faz com esses alertas que o corpo emite? Ignora. Simples assim. Mas a verdade é que o preço de querer dar conta de tudo é muito alto.
Por isso, Mulher, quero te lembrar que você e eu merecemos uma vida mais leve, com menos cobranças, mais saúde mental e tempo livre para descansar (descanso não precisa ser produtivo, tá? Pode ser ficar deitada na cama olhando pro teto, apenas tirar um bom cochilo ou assistir a um filme sem ter que gerar ideia para conteúdo de redes sociais).
Afinal, a vida não é uma corrida ou uma competição de quem chega primeiro. E, para realmente aproveitar o tempo presente com mais qualidade, precisamos começar a nos enxergar com mais carinho e amor.
Então, aqui fica a mensagem final deste texto: lembre-se de que você não está sozinha e que não precisa dar conta de tudo.
Com carinho,
Carol Portiolli
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